newsletter #6

LISTAS E LISTAS

Eu gosto delas. Não tanto pelo sentido de organização que elas parecem criar (especialmente essas que tentam passar a limpo um ano inteiro), muito simplesmente porque estarão sempre incompletas. Gosto mais porque facilitam a partilha das coisas que gostamos, e que talvez mais pessoas também possam gostar. Eu, como sou daqueles seres estranhos que ainda preferem ouvir álbuns, tenho o hábito de fazer minhas listas dos preferidos do ano. Os brasileiros e os portugueses.

A deste ano começa com o “Negra Ópera”, do Martinho da Vila. Uma pequena jóia, lançada em pleno 13 de maio, por este senhor de 85 anos que já não precisa provar nada a ninguém, mas insiste em nos oferecer tanta sabedoria e beleza. Duas semanas depois, veio o primeiro disco solo do Zé Ibarra, “Marquês, 256”. Ainda que a gente tire da conta a parte que lhe cabe do fenômeno Bala Desejo, dá e sobra pra ele ter lugar na lista. Desde o Dônica que a voz dele já me chamava a atenção, possivelmente a voz masculina mais bonita desta geração. Bom demais descobrir que, além da voz, sua caneta também é afiada.

Por defeito da profissão o meu ouvido costuma estar sempre mais atento às canções, então acabo deixando passar muita música instrumental que acontece por aí. Mas o “Baião de Dois”, do Salomão Soares e Guegué Medeiros não me passou batido. Mérito deles, que fizeram um discaço com uma formação curiosa: piano e zabumba. E não precisou mais nada.

Completando a parte brasileira da lista, os meus dois álbuns preferidos são completamente diferentes. De um lado, as versões primorosas do “Xande Canta Caetano”. A voz de Xande de Pilares e a concepção musical de Pretinho da Serrinha levaram as palavras de Caetano, que a gente acha que conhece tão bem, pra um outro lugar, pra um outro tipo de sofisticação e elegância. O samba é foda. E finalmente, do outro lado, Ana Frango Elétrico. Cada vez melhor, com o som cada vez mais rico, mas com o mesmo espírito lúdico e inclassificável do primeiro disco. “Me chama de gato que eu sou sua” é outro golaço dela.

Sim, é uma vergonha essa parte da minha lista só ter uma mulher, eu sei. Em compensação, elas são maioria (e não é de hoje), se passarmos pra metade portuguesa. Os dois únicos homens que vou mencionar aqui são o Tomás Wallenstein, que lançou assim, despretensiosamente, logo em janeiro, seu primeiro disco solo, o “Vida Antiga”, e eu gostei bastante de ouvir; e o Prétu — isto é, Xullaji, isto é, Chullage — que agora no final do ano lançou uma bomba poderosíssima chamada “Prétu 1 – Xei di Kor”, absolutamente necessário para Portugal hoje.

Voltando à seara dos primeiros discos, achei uma delícia o da Margarida Campelo, “Supermarket Joy”. Mas sem surpresas, porque a Margarida sempre foi excepcional nos outros (muitos) projetos em que participa, era mais que hora dela poder se espalhar num disco próprio. Também já não é surpresa, embora pra muita gente ainda seja porque ela é super nova, a Ana Lua Caiano, que desde o ano passado segue pondo pra fora muitas e muitas coisas boas. Músicas, videos, ideias… Ano passado foi o “Cheguei tarde a ontem”. Este ano foi o “Se dançar é só depois”. Diz que são só EPs, e que o álbum mesmo só sai no ano que vem. Mas como a lista é minha e eu faço o que eu quiser, Ana Lua entra nesse ano, e podem anotar, em 2024 entrará também. Surpresa surpresa, essa sim, foi a Mimi Froes, que eu vim a descobrir recentemente por conta do “Contornos”. Não conhecem? Procurem saber.

Aliás, procurem saber também da Surma, da Beatriz Pessoa, da Milhanas, da Carminho, da Bia Maria, da Femme Falafel, da Emmy Curl, da Eugénia Contente, da Maria Reis, das Sopa de Pedra… As mulheres da música portuguesa estão dando um baile, e já era mais do que hora delas ocuparem no mínimo (repito: no mínimo) metade do espaço dos cartazes dos festivais que rolam por aí.

BLACK FRIDAY

Resolvi fazer umas promoções estúpidas de Black Friday que quase me arrependi. Os vinis já foram praticamente todos (talvez já tenham ido quando lerem isto), porque era um preço mesmo, mesmo ridículo. Estou neste momento sem caixas e envelopes para os envios. Mas prometo que vou arranjar tudo, e a promoção segue até o Natal, porque vocês aqui da newsletter merecem. Então é assim: ainda temos jornais do Samba de Guerrilha e revistas de Sabina a 5€. Pois é, não faz o menor sentido, mas é isso aí. E ainda temos também um pack de 3 CDs por 10€. Vão lá na lojinha, está tudo lá. Ou pelo menos estava, da última vez que conferi.

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ANTES QUE EU ME ESQUEÇA

Uma nota rápida: como eu já tinha previsto e avisado na última newsletter, o concerto d’A Garota Não no último sábado no CCB foi um estrondo. Entre um milhão de outras coisas que aconteceram, cantamos Sérgio Godinho… com o Sérgio Godinho. Era só isso que queria dizer.

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Agora sim a agenda do mês. Nossos próximos encontros, quem sabe, poderão ser:

Dia 9 / Tavira: (trio) Casa do Povo de Santo Estevão, 22h
Dia 10 / Loures: (solo) Ciclo de atividades comunitárias “Pano Protagonista” / Teatro Ibisco, 19h
Dia 12 / Lisboa: FNAC Talks com Benjamin / FNAC Chiado, 19h
Dia 21 / Porto: Quintas de Leitura / Teatro do Campo Alegre, 22h
Dia 31 / Évora: Passagem de Ano com a Orquestra Bamba Social

Feliz Natal, pessoal!

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