newsletter #26
BRASIL, MEU DENGO, DEIXA EU TE CONTAR
Começa com as fáceis. “De onde no Brasil você é?”, e logo em seguida “há quanto tempo está aqui?”. Essas são só a preparação do terreno para a pergunta que o imigrante brasileiro mais ouve. A que todos, aparentemente, têm muito interesse em saber. Uma pergunta que parece simples, mas que, para nós, evoca um labirinto de sensações e lembranças que pode ser bastante complicado de navegar, e cuja resposta define o quão longa e profunda será a continuação da conversa: “Então, não pensa em voltar?”
Não sei quem escreveu esse script, mas é um enorme sucesso nas interações sociais entre imigrantes e qualquer pessoa (incluindo outros imigrantes). Eu diria, com tranquilidade, que 2 em cada 3 conversas breves que tenho com recém-conhecidos seguem à risca essas perguntas, nessa mesma ordem. E não tem problema nenhum que seja assim. Mas eu, por não saber muito bem o que dizer na hora da pergunta derradeira, desde muito cedo roubei uma resposta para ela, e a mantenho sempre bem guardada no bolso.
Recém-imigrado largadão numa livraria
A resposta é assim: “Penso em voltar quando voltar não for mais voltar, for ir.” Uso há tanto tempo essa frase que nem lembro bem de quem a roubei. Acho que foi de uma entrevista da Maria Gabriela Llansol, ou de alguém que me falou que essa frase era dela. Se algum de vocês conhecer a procedência, me avise, por favor. É que eu acho a ideia perfeita. Porque, afinal, o que é voltar? É ter estado em um lugar e retornar para o mesmo lugar. Só que conforme o tempo passa (e ele passa rápido), os lugares vão mudando. A casa, o bairro, a cidade para onde nós achamos que voltamos nunca são bem as mesmas que deixamos ao sair. As coisas mudam de lugar, os números de telefone, as linhas de ônibus, as embalagens dos produtos no supermercado. E as pessoas também. Elas mudam, se mudam, somem, morrem. Grupos de amigos se desfazem, outros se formam na nossa ausência. Especialmente nós próprios já não somos os mesmos quando voltamos. Nosso olhar está diferente. E isso, literalmente, muda tudo.
Por isso voltar, voltar mesmo, é quase que uma impossibilidade prática. Ou melhor, é uma ilusão. Mas uma ilusão, aí está, irresistível. É muito, muito difícil não se agarrar às lembranças que guardamos dos nossos lugares, não confundir esses lugares com as nossas memórias do que eles um dia foram. Eu acho que demorei mais de dez anos para me desvencilhar dessa ilusão. Deixá-la partir, fazer as pazes com ideia de que nunca mais voltarei.
Mas o curioso é que, no momento exato em que essa ficha terminou de cair, veio junto um desejo grande de ir. Ir conhecer esse novo lugar. Aprender o que agora existe lá. Descobrir quem eu posso ser lá. E a viagem que vou fazer em poucos dias para o Brasil talvez seja, de certa forma, uma primeira ida. É que em todas as outras viagens eu fui com o propósito de visitar a família e os amigos, aproveitando, quando era possível, para marcar alguma apresentação. Desta vez vou mesmo para apresentar o que tenho feito, escrito e cantado nos últimos tempos. Claro, quero aproveitar para ver as minhas pessoas também… certo de que vou falhar miseravelmente com a maioria, porque os dias serão escassos. Mas, como eu disse, essa é como se fosse a primeira ida. Sinto até aquele friozinho na barriga antes de uma nova história começar.
Calculando o pulo
ANTES QUE EU ME ESQUEÇA📍
E falando nela, é claro, fiquem com o roteiro da viagem. Já tem até duas datas esgotadas! Mas em São Paulo, se o clima ajudar, vamos conseguir passar para um espaço maior da casa e abrir mais lugares. Há uma lista de espera para quem quiser garantir esses lugares extra (eu acredito!).
🇧🇷 RIO DE JANEIRO — dia 30/7: Centro da Música Carioca / 19h – ESGOTADO
🇧🇷 PARATY (FLIP) — dia 2/8: Casa Urutau / 20h30 – Lançamento do livro Meigo Energúmeno
🇧🇷 BELO HORIZONTE — dia 5/8: Casa Outono / 20h30 – INGRESSOS
🇧🇷 BELO HORIZONTE — dia 6/8: Livraria Quixote / 18h30 – Apresentação do livro Meigo Energúmeno
🇧🇷 SÃO PAULO — dia 7/8: Livraria Ponta de Lança / 19h – Apresentação do livro Meigo Energúmeno
🇧🇷 SÃO PAULO — dia 8/8: Casa Odette / 20h30 – LISTA DE ESPERA 🤞🇵🇹 COVILHÃ — dia 22/8: Atrás da Câmara / 21h30 – Entrada Livre
🇵🇹 GONDOMAR — dia 30/8: Parque Urbano / 21h30 – Entrada Livre
NA ESCUTA, CÂMBIO 📡
Queria dizer que tomei nota de todas as outras cidades que vocês indicaram para a continuação desta viagem ao Brasil. Salvador, Fortaleza, Recife, Volta Redonda, Búzios, Florianópolis… Não vai ficar esquecido quando eu montar o próximo roteiro. E tem espaço para mais, é só me contarem pelo tradicional botão:
Agora, para terminar, queria responder rapidamente a um pedido que chegou por aqui no mês passado, para que eu publicasse a newsletter no Substack também. Não é a primeira vez que me colocam essa questão, e eu próprio, há dois anos, quando comecei isso aqui, considerei seriamente usar o Substack. Já acompanho várias newsletters por lá, achei bonitinho, e cheguei até a fazer uma conta pra mim. Mas usando a plataforma senti que ela estava bastante inclinada em se tornar (mais) uma rede social. E todo o propósito disso aqui existir é justamente fugir do ambiente de rede social. Aqui somos só nós, no bom e velho email. Não tem feed, não tem post, não tem story, algoritmo, métricas de engajamento… Eu envio, vocês recebem. Simples assim. Como uma carta (aquele meio de comunicação que os antigos fenícios usavam). Além do que, se qualquer dia um Elon Musk, ou um Zuckerberg, ou outro maluco desses resolver comprar o Substack e estragar aquilo, nosso refúgio continua protegido. Estou falando alguma besteira? Não sou nenhuma autoridade no assunto. Se nada disso fizer sentido, me digam. Por mim, este espaço é exclusivo para vocês, mas, se quiserem muito, posso voltar a considerar abrir uma sucursal lá no Subs.