newsletter #18
AS LISTAS DE D. FIRMINA
Reza a tradição que em todo mês de dezembro D. Firmina partilhe comigo as suas listas de álbuns preferidos do ano que passou. Seus critérios são rigorosos. Implacáveis. Eu próprio jamais teria capacidade para uma avaliação tão severa. Ela me diz apenas 5 álbuns de Portugal, e 5 do Brasil. Nada mais. Eu geralmente me limito apenas a transmitir as suas avaliações. Mas esse ano notei que ela estava hesitante. Fez e refez as listas muitas vezes, trocava os discos de posição, não demonstrava muita convicção. Talvez tenha sido um ano particularmente difícil de decidir — o que é ótimo sinal de que saiu muita coisa interessante, acho eu. Por isso resolvi adicionar (sem o conhecimento dela, que não lê esta newsletter) algumas menções honrosas a cada lista. Não contem a ela!
D. Firmina ouvindo um som na sua JBL
Começando por Portugal. O topo da lista até foi fácil. Desde o início do ano foi ocupado pelo disco de estreia dos Cara de Espelho, e de lá não saiu mais. Os outros é que foram se alternando ao longo dos meses, até chegar nessa configuração: o Subida Infinita dos Capitão Fausto, que aparentemente nunca erram. O Qualquer Um Pode Cantar da Bia Maria (aguardadíssimo por aqui desde que descobrimos o primeiro EP dela, em 2019). O Mais Alto!, outra união de cabeças musicais iluminadas que se juntaram, não por acaso, nos 50 anos da Revolução dos Cravos. Se os Cara de Espelho são a Liga da Justiça, Mais Alto! são os Super Amigos da música portuguesa hoje. E para terminar, um disco cuja apresentação eu assisti no Porto, e que acho que merece ser ainda muito ouvido e apreciado, porque é uma jóia: o Disco de Reclamações do André Júlio Turquesa.
Mas é como eu disse, muita coisa mais poderia estar aqui. Eu vi nos olhos de D. Firmina a hesitação, a mão tremendo antes de fazer os cortes finais. Então fica aqui a minha justiça clandestina, indicando a vocês também o Vou Ficar Neste Quadrado da Ana Lua Caiano; o Pastoral da Emmy Curl (esse D. Firmina adorou!); o Dimensions da Lana Gasparotti (esse foi uma surpresa ela ter gostado tanto, porque não percebe nada de inglês); o 0 do Nástio Mosquito (sempre interessante); e o Demorar do Afonso Cabral (que de certa forma acabou representado, porque faz parte do Mais Alto!).
Isso sem falar que a ouvi resmungando absolutamente indignada que o Samuel Úria só ia lançar o seu disco novo depois dessa newsletter sair. Que isso já não era altura para lançar disco, que só atrapalha a vida das pessoas, que era uma falta de consideração… Até perguntou se eu não podia ligar para ele pedindo para acelerar o processo. Eu falei que ia tentar. Claro que não liguei. Mas argumentei que, em todo caso, poderíamos considerá-lo para a lista de 2025. Ela ficou mais calma com essa ideia. Passemos para o Brasil.
Aqui vou pedir licença para algumas ressalvas e protestos. Quando saiu o Tembla, álbum do Hamilton de Holanda com o C4 Trio, eu perguntei à D. Firmina se esse não era um forte candidato para a sua lista de final de ano brasileira. Ela disse que não, porque o C4 Trio é venezuelano. Não concordei com o critério exclusivista, mas deixei passar. Só que uns meses depois saiu o Milton + esperanza e ela veio com a mesma desculpa. Esperanza Spalding não é brasileira. Aí eu não me conformei. Como é possível um álbum do Milton Nascimento não ser elegível para uma lista de álbuns brasileiros? E o português perfeito da menina? Tentei convencer D. Firmina de todas as formas, mas ela foi irredutível. Não achava justo com os outros artistas. Que raio de velha teimosa.
Só por causa disso vou dizer aqui que, para mim, teria lugar confortável nessa lista o Rotorquestra de Liquidificafu, álbum ao vivo que celebra 30 anos do Pato Fu, em palco com a Orquestra Ouro Preto. Puxa vida, acho que o primeiro CD que ganhei na vida foi o Gol de Quem?, do Pato Fu! Hoje não entendo como uma criança poderia gostar tanto desse disco estranhíssimo. Eu provavelmente não entendia nada do que ouvia, mas adorava ouvir. E esse álbum agora com a Orquestra, que beleza de disco, um documento histórico, super emocionante, ótima seleção de músicas, todos em grande forma… Mas D. Firmina diz que não gosta de Pato Fu. Pois é, existem essas pessoas.
Muito diferente é a situação de discos como o Colinho da Maria Beraldo; ou o Mundo Paralelo do Moreno Veloso; ou o Terceiro Mundo da Nomade Orquestra. Sei que D. Firmina ouviu e gostou de todos eles, mas por motivos misteriosos acabou não incluindo nenhum na sua lista final. Lista essa que começa com o Boca Cheia de Frutas do João Bosco. Sempre fabuloso, o João Bosco.
Depois, a lista também tem o Nasci no Brasil do Pietá. Tem o aguardadíssimo (pelo menos para nós) CORAL do Zé Manoel, que começa meio estranho (D. Firmina detesta inglês, como eu já disse), mas vai crescendo faixa após faixa. Tem também o lindo e (justamente) premiado Prece da Luiza Brina. E por fim teve uma surpresa, que eu só descobri através da newsletter da Aline Frazão, e que nos conquistou completamente com belas canções e arranjos que mais parecem pinturas: o Viseira do Davi Fonseca.
D. Firmina aproveita para desejar a todos, e passo a citar, “um santo Natal e um Ano Novo do caralho”.
ANTES QUE EU ME ESQUEÇA
No final do mês de novembro aconteceu mais uma vez a Black Friday na minha lojinha. Como lancei as promoções muito no final do mês, e essa newsletter sai no início, não pude fazer uma coisa que gostaria, que é dar a vocês que estão aqui um período especial para aproveitarem antes de todo mundo. Não pude fazer antes, mas faço depois. Fechei as promoções, como era previsto, no dia 24. Porém, só para vocês que assinam a newsletter, vou reabrir a promoção mais procurada desse ano: o pack que inclui o Jornal do Samba de Guerrilha + 5 CDs (Bandeira, Conversa de Fila, Samba de Guerrilha, Ao Vivo no Porto e Sabina) por (pasmem) 10€. Vou deixar esta promoção aberta sem falar para ninguém (além de vocês) até o Natal. Mas ATENÇÃO: só começarei a fazer os envios em Janeiro. Ou seja, se quiserem receber antes do Natal, sinto muito, mas não vou conseguir enviar a tempo.
E nos vemos em 2025! 💫