newsletter #12

VÁRIOS RUÍDOS

Relendo a última newsletter percebi que ficaram alguns ruídos por afinar e silêncios por preencher. Era de se esperar, porque foi escrita em plena embriaguez de um Abril tão repleto que transbordou Maio afora, e até salpicou Junho. É que nem só de concertos se fizeram estes últimos meses. Também tenho andado a preparar, junto com a Ana Deus, nosso segundo livro de canções à volta de Fernando Pessoa. Finalmente!

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Tudo isso começou em 2017. Partiu de uma iniciativa conjunta da Casa Fernando Pessoa e da Editora BOCA. Escolhemos uns poemas, transformamos em canções, e no ano seguinte estava lançado o livro-disco “Ruído Vário”. Desde então eu e Ana andamos por aí apresentando esses poemas em festivais literários, bibliotecas, casas de cultura e onde mais nos convidassem. Tenho muito carinho por esse trabalho. Não acho nada fácil escrever canções em conjunto. Geralmente me apego rápido às ideias, depois não quero abrir mão delas, e acabo fazendo as coisas sozinho… Mas com a Ana sempre foi surpreendentemente fácil. Nunca tínhamos feito nada, e de repente foram logo 15 temas de rajada. Nunca me havia acontecido tal coisa. Claro que ter um letrista como o Nandinho fazendo o meio de campo ajuda muito…

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E foram 6 anos na estrada, pra lá e pra cá, até que surgiu uma ideia nova. Um bom mote para fazer mais um punhado de canções. A pedido da Oriana, nossa querida editora, eu e Ana preparamos um texto sobre essa nova descoberta. Ficou assim:

No lote de canções anteriormente gravadas por nós já brilhava um poema de características diferentes, no esquema de rimas e no tom carpe diem. Era o “Rubaiyat” – nome de uma antiga forma poética persa, a que também é costume chamar “Canção de Beber”. Cada rubaiyat é composto por vários ruba’i, quadra onde o primeiro rima com o segundo e quarto versos, deixando o terceiro livre.

Rimam um, dois e quatro as quadras feitas

Segundo as leis das coisas imperfeitas

E o terceiro é suspenso e rima onde?

E sempre, ó Fado, errados dados deitas.

Foi através das traduções de Edward Fitzgerald para o inglês que deu-se o fulminante encontro de Fernando Pessoa com o maior mestre dos rubaiyat, o poeta-astrónomo do século XII, Omar Khayyam. Uma poesia ao mesmo tempo desdenhosa da materialidade do mundo e celebratória dos seus prazeres físicos, carregada de fatalismo, tédio, misticismo, e, é claro, muito, muito vinho. Pessoa encantou-se.

E nós encantámo-nos também com essa transmigração de almas. Estes poemas viajaram através do tempo e do espaço trabalhados com alma e engenho em traduções e/ou versões no caso do Fitzgerald, e muitas vezes em recriações completas, no caso do Pessoa. Nós por cá fomos trocando gravações e ideias até chegarmos a estas “Canções para Beber” que aqui vos entregamos.

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A apresentação das nossas “Canções para Beber com Pessoa” vai acontecer agora em Junho em Lisboa, junto com uma outra coisa especialíssima que há anos nos pedem, e que até então não tinha sido feita: o lançamento dessas músicas nas plataformas digitais. Não só das novas, mas também das antigas, do “Ruído Vário”, que nunca estiveram disponíveis antes. Um brinde! 🙌🍷

ANTES QUE EU ME ESQUEÇA

Neste mês de junho também vou dar o meu primeiro concerto em Berlim! Amizades berlinenses, apareçam! Amizades que têm amizades berlinenses, passem a palavra! Danke schön 💜

Leiria – dia 8 na Versátil – Festa Literária
Lisboa – dia 12 com Ana Deus, na Casa Fernando Pessoa
Porto – dia 20 na FEUP, programação do Equações da Liberdade
Berlim – dia 23 no Klunkerkranich

 

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