newsletter #7
AINDA É CEDO
Já me aconteceu mais de uma vez este ano eu querer falar 2024 e me sair 2014. E ouvi acontecer a outras pessoas. Com vocês também? Da última vez eu estava pensando no assunto desta primeira newsletter do ano… e de repente fez-se luz. Em vez de uma retrospectiva do ano que acabou de morrer, resolvi abraçar o lapso e pensar realmente no que se passou há dez anos. E sabe do que mais? Estamos numa posição bem melhor para isso. Conhecem aquela frase de um primeiro ministro Chinês quando perguntaram a ele, em 1972, sobre os impactos da Revolução Francesa, e ele respondeu: “Ainda é muito cedo para dizer”. Pois é isso. Deixe o cadáver de 2023 esfriar, e reflita: onde a gente estava em 2014? O ano do 7 a 1, da reeleição dramática de Dilma, da prisão de Sócrates, da morte do Chespirito e do Eusébio, da trend do balde d’água fria…
Eu? Eu estava no Porto, começando a escrever a minha dissertação de mestrado sobre Vinicius de Moraes, e preparando um livro de poesia chamado O Livro de Reclamações, o primeiro que escrevi em Portugal. Tem uma história engraçada sobre a apresentação desse livro. Na universidade, tanto a minha orientadora quanto a minha co-orientadora eram também poetas — excelentes poetas. A Rosa Maria Martelo, e a saudosíssima Ana Luísa Amaral. Na época a Rosa também tinha acabado de lançar um livro e me propôs: vou ao lançamento do teu, e lá trocamos nossos livros. Dito e feito. Ela foi, levou o livro dela para me oferecer, mas ao chegar se deu conta (ela e todos os presentes), que o Livro de Reclamações não tinha edição física. Era um livro cantado! Durante muito tempo, sempre que nos encontrávamos ela se queixava que naquela noite tinha levado o livro para mim, e voltado para casa de mãos abanando… Mas o que eu ia fazer? Se eu tivesse explicado a ela antes qual era o formato do meu livro, ia estragar toda a surpresa!
Esta é uma foto de 2014, em uma das apresentações do Livro de Reclamações no Porto (no Aduela), exatamente no dia do 7 a 1:
Para quem quiser ver/ouvir o dito cujo, cada poema tem um video correspondente, e eu fiz um site para ele que, para minha surpresa, ainda existe na internet, e funciona: https://olivrodereclamacoes.tumblr.com/
Alguns anos depois, fui redimido pelo Nuno Moura, que finalmente editou o Livro de Reclamações em formato físico, pelo selo Miasoave, onde vem sempre um livro e um CD. O LdR era o CD, e a parte do livro eu chamei de CONTEMSPOILERS. Mas isso já é outra história. O que interessa é que:
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A Rosa Martelo conseguiu enfim um Livro de Reclamações
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Eu comecei 2024 querendo revisitar esse livro, de alguma forma
No fundo, acho que comecei o ano querendo me reaproximar dos livros. Escritos, cantados, o que seja. Pensar num livro é diferente de pensar num álbum. O último livro que lancei, o Fui ao Inferno e lembrei de você já vai completar 5 anos, e eu tenho aqui algumas ideias. Começo a olhar para coisas aleatórias e pensar “puxa vida, que poético”. A última foi um daqueles quadros com exemplos de nós de marinheiro. Já viram? Um quadro com vários pedacinhos de corda fazendo diferentes tipos de nós, e o nome do nó escrito embaixo. Nó torto, nó direito, laçada, nó de correr dobrado, nó de cabula, nó polar cruzado, volta de fiel, nó de tecelão, nó cego… Fiquei um tempão olhando e pensando: isso dava um livro.
Capa do Livro de Reclamações (foto da Bea Saiáns)
ANTES QUE EU ME ESQUEÇA
Obrigado a todo mundo que aproveitou as promoções de Black Friday na lojinha, ao longo do último mês. Foram umas três caixas de vinil que voaram, libertaram um espaço precioso no armário, e de quebra ainda fiquei amigo do senhor dos correios, que já não me aguenta ver à frente.
Janeiro tem nada não. Bom a tod@s, nos vemos no carnaval.