newsletter #3
GÊMEOS DE GÊMEOS
Quando vamos gravar uma música é preciso tomar decisões. O que pode não ser nada fácil — especialmente para geminianos, como eu. Não tem como colocar todas as ideias possíveis dentro da mesma gravação, por melhores que elas sejam. Mas e uma música que fala justamente sobre isso? Sobre vontades contraditórias que a gente às vezes tem ao mesmo tempo, e precisa escolher? Uma só uma versão, um só arranjo, parece pouco… Daí pensei em inventar uns gêmeos para a canção Gêmeos — uma das minhas faixas preferidas do Sabina. E esses gêmeos vão nascer nos próximos dias!
O que eu fiz: regravei a música de duas formas completamente diferentes. E em nenhuma delas usei instrumentos “normais”. A primeira versão é totalmente eletrônica. A segunda é totalmente a cappella, isto é, só usei a voz (e um pouco de percussão corporal). Sempre fui apaixonado por música a cappella. O canto coral foi das partes mais importantes da minha formação musical, e sempre que posso gosto de usar um pouco de arranjo vocal nos meus discos. Pego meu caderninho, faço um desenho das texturas que quero, depois tento distribuir as vozes na pauta, e quando vou gravar tenho um mapinha cheio de garranchos como estes na minha frente.
E como esses rabiscos soam? Bom, as novas versões só saem no próximo dia 8, mas especialmente para vocês que assinam a newsletter, eu vou deixar uma pequena espiada antecipada. No link abaixo podem não só ouvir um trecho da versão original se transformando nas duas outras, mas também já fazer o pré-save nas plataformas para ouvirem tudo quando sair: https://hypeddit.com/qhc6xb
E para quem ainda estiver curioso sobre a origem da música, eu escrevi em junho um faixa a faixa do Sabina para o Rimas e Batidas e este aqui é o trechinho em que comento um pouco sobre as inspirações que me levaram a escrever Gêmeos:
Pessoalmente é a minha canção preferida do disco, e de muitas pessoas também. É das poucas letras que não leva nenhuma apropriação alheia, saiu totalmente da minha cabeça. Acho que todo mundo tem um pouco dessa sensação de ser múltiplo, dentro de si. De querer ao mesmo tempo coisas contraditórias, de se sentir dividido entre vontades e possibilidades, de sofrer diante da necessidade de fazer uma escolha. Especialmente as pessoas de gêmeos, como eu. Na minha visão particular, de quem enxerga o álbum por dentro, esse tema também faz eco com o “impostor” da letra de “Bala e Estrela”. O impostor sou eu mesmo, em tudo que faço quando tento assumir o ponto de vista do outro. Isso, enquanto exercício de empatia, é uma coisa muito necessária. Por outro lado, é um fio da navalha ética, porque eu não sou o outro, jamais saberei realmente como é estar na pele do outro, e não posso em hipótese alguma falar como se soubesse. É um enorme desafio esse desdobrar do pensamento: tentar chegar o mais perto possível do sentimento do outro, sem esquecer nem por um minuto de onde estou falando. Curiosamente, é uma das poucas músicas do disco que não tem citações/apropriações de outros autores na letra. Nesta canção a citação ficou na melodia, um trechinho de “Vera Cruz” do Milton Nascimento, no final do arranjo.
AVANTE!
Eu sabia que ia ser bom, mas não imaginava tanto. Quando a Cátia – A Garota Não – nos fez o convite foi uma alegria simplesmente por poder subir de novo num palco com ela, e cantar nossas músicas juntos. Sou realmente fã dela. O 2 de Abril é um disco maravilhoso por todas as dimensões em que se ouça e veja e leia, e A Garota ao vivo é sempre um estrondo. Com dois craques na bateria (Diogo Sousa) e guitarra (Sérgio Miendes), uma voz que desarma o coração, e letras que alimentam a cabeça, o que mais uma pessoa pode querer?
Aí logo saiu a programação e com ela os comentários expectantes dos amigos. “No sábado do Avante!? Às 22h? No palco 25 de Abril? Aquele enorme?” E começou a dar aquele friozinho na barriga. Mas eis que chegou o dia, e aconteceu tudo como tinha de ser. Eu nunca tinha ido à Festa do Avante! Foi tudo uma encantadora novidade. Desde a dimensão avassaladora do espaço, a variedade de atividades para todas as idades, de espaços, de comidas, um cartaz musical super diverso e de altíssimo nível, mas principalmente a simpatia e boa disposição com que fomos recebidos, desde o portão de entrada até à boca do palco. Pelos voluntários e pelo público.
Foi uma noite linda, inesquecível, e não me canso de agradecer à Cátia pelo convite e pela generosidade com que recebeu a mim e à Pri Azevedo (o teclado mágico que veio representando minha banda de guerrilha) nesse seu concerto brilhante. Obrigado ao Avante!, e obrigado aos não sei quantos milhares de pessoas que nos acolheram, e cantaram conosco, e depois nos encheram as caixas de mensagens com tanto carinho.
PRÓXIMA ESTAÇÃO:
9 de Setembro: Festival de Setembro em Ourém. Às 23h no Anfiteatro dos Torreões – Entrada Livre
22 de Setembro: Teatro Constantino Nery em Matosinhos. Alô Porto! Bilhetes à venda muito em breve, fiquem ligados no meu instagram para saber!